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Comentários sobre sonhos, privação de sono e projeções
Publicado em: 03 de maio de 2007, 11:17:59  -  Lido 3581 vez(es)

Comentários didáticos de Lázaro Freire sobre pesquisa de supressão de sono via estímulos magnéticos. Ilustra princípios de sono, sonhos, projeções astrais, esferas de Ken Wilber, indução de estados alterados e clarividência, e formação de patologias sociais via comportamento coletivo.


> Fonte: Folha de S. Paulo, 01/05/2007
> Neurologia: pesquisa faz cérebro achar que dormiu

Vamos ler isso melhor?

1. Estar sem a sensação de fome não é o mesmo que ter se alimentado.

> Uma solução contra a falta de tempo para dormir pode ser
> possível, indica estudo da Universidade de Wisconsin-Madison,
> nos EUA.

2. Talvez o método recupere parte das vantagens do sono. Não conhecemos todas.

> Usando um aparelho magnético, cientistas simularam o
> efeito de uma noite de sono no cérebro de voluntários.

3. Precisariamos saber todos os efeitos do sono, no físico, na mente, na alma e no espírito. Estamos perto de conhecer a primeira parte, longe de conhecer a segunda, e ignorantes na terceira. O olho do físico não tem como analisar o que ocorre na esfera mental, que que transcende e inclui a primeira. O olho mental / psíquico não conhece a realidade da alma, que demanda experimentação direta, e transcende incluindo as outras duas.

Vide gráfico de esferas em:
http://www.integralworld.net/index.html?pt/subtleenergy-01-pt.html

Aparelhos magnéticos simulam o que o olho do físico pode ver. Mas mesmo no físico, sabemos que o sono não-REM descansa o corpo, sim... Mas experimentos já demonstraram que pessoas privadas de sono REM (onde ocorrem os sonhos), apesar de descansadas fisicamente, tem grande dificuldade em lembrar de fatos do dia anterior, tem menores acertos de questões, etc.

Alguns presumem que a função principal do sono REM seja, dentre outras, permitir a transferência de conteúdos da memória de curto prazo para a de longo prazo. Inclusive revivendo situações do dia anterior. Estaria aí, neste upload do que interessa, filtrado por nossas lembranças e medos anteriores, o núcleo neurológico / evolutivo do conceito de "inconsciente". Experimentos sugerem que mamíferos também sonhem, em REM, e pelos movimentos, lembrando de situações difíceis (aprendizado de defesa) ou simulando caça (filhotes).

Ou seja, o SONHO (mental), em si, mais que o simples SONO (físico), teria funções indispensáveis até no nosso desenvolvimento evolutivo / cerebral / adaptativo. Fundamental para a "inteligência", conceito hoje definido como "capacidade de resolver problemas e adaptar-se a novas situações".

Um sono mecânico possivelmente traria consequências cognitivas futuras.

Mas não para aí: discípulos de ordems ocultistas / iniciáticas às vezes privam-se de sono, para facilitar estados alterados e visões. Já passei por provas assim. Faz sentido neurológico, uma vez que, comprovadamente, pessoas privadas de sono REM entram muito mais rápido nesse estado ao voltar a dormir (dispensando os 90 min iniciais das fases do sono pós alfa). E se totalmente privadas de sono REM, relatam uma maior presença de, digamos, "imagens e idéias oníricas" ao longo do dia - que podem ser vistas como um favorecimento a delírios e alucinações (estrutura psicótica), ou "sonhos acordados". Lembro que Jung dizia, antes do diagnóstico cerebral por imagem confirmar, que sonhamos em todos os estados, inclusive na vigília - apenas nossa mente faria tanto barulho que, nesse momento, não conseguimos perceber as formações do inconsciente, as quais podem contudo se acumular e se expressar de outros modos na vida cotidiana, ou alterar nossa interpretação.

> A máquina interfere na parte do cérebro que controla o sono
> profundo, criando padrões elétricos iguais aos de pessoas
> dormindo de verdade.

Bem, aí temos a confissão de um equívoco / desconhecimento da pesquisa, ou mais provavelmente do jornalista sensacionalista.

O sono profundo (delta) ocorre apenas em poucas fases do sono, variando em amplitude de ondas cerebrais. Embora em todas as fases ocorram SONHOS, estes são mais frequentes na fase teta (sono leve), REM (movimento rápido de olhos) e alfa (cochilos, estados alterados).

Ao longo da noite, as fases REM vão se tornando maiores, sucessivamente. No começo da noite, a fase delta, de sono profundo simulado, é prioritária, repondo talvez as necessidas físicas de descanso.

Sonhos com forte conotação / interpretação psíquica costumam ocorrer mais frequentemente ao longo da noite, ou já quase na manhã. Isso talvez porque temos mais sono REM nesses horários, além de já estarmos mais descansados fisicamente, favorecendo um sono "leve", ou mais rememorável.

Se o método simula ondas do sono profundo, isso implica não haver o trabalho psíquico / compensatório que sonos fazem, alvo dos estudos de jung, psicanálise, etc. Isso permitia que voltassemos parcialmente à normalidade após desequilíbrios que afetassem nossa psique (camada mental, que inclui a cerebral-física mas a transcende). A ciumenta não verá mais a traição à noite, o depresssivo não terá mais sonhos coloridos que readequassem sua balança, o adolescente não criará mais "assédios" sexuais e poluções (noturnas), a pessoa com um trauma não o reviverá (à noite) até lidar, o abandonado não sonhará com quem o deixou, a abandonador também não lidará com a culpa, a experiência assustadora do dia anterior ou expectativa futura será recalcada/reprimida ao invés de virar um saudável conteúdo de pesadelo sombrio. Caminho aberto para neuróticos, obsessivos, e demais patologias.

Nem vamos adentrar nas camadas da "alma" e do "espírito", pois elas incluem as anteriores. Não há negação na evolução, e sim inclusão. O mais profundo espiritual ESTÁ CONTIDO na célula. As organizações da consciência são sucessivas, vide parte de baixo do gráfico em:

http://www.integralworld.net/index.html?pt/subtleenergy-01-pt.html

> Ana:
> Será que vamos avançar nessa direção: diminuimos o tempo de sono,
> reduzimos o tempo de nossas projeções ... nos tornamos cada vez
> mais ligados ao intrafísico??

Bem, há duas possibilidades maiores, dependendo da estrutura patológica / passado psicanalítico da pessoa.

PODE SER que neurotizem mais, devido a um excesso de consciente / intrafísico.

Mas, como disse, estudos demonstram que quem não sonha pode ter outras patologias, até ter risco de morte, e antes disso a mente tente de todas as formas levar a pessoa ao inconsciente. Se ela não tem mais SONO, mas ainda tem deficiência de SONHO, não cochilará, mas as experiências sugerem que, ao contrário, PODE SER que essa pessoa comece a ter vida, digamos, "extrafísica" no aqui / agora. Você pode chamar isso de clarividência ou esquizofrenia, mas provavelmente não serão marcadas pelo equilíbrio.

Quanto às projeções, parte das que merecem mesmo o nome são as que notamos hiper-consciência ao lado da cama, em geral após catalepsia projetiva por metabolismo baixíssimo e ondas cerebrais quase nulas (não confundir com catalepsia do sono, muscular, do sono REM).

Aí vai depender do mecanismo do aparelho. Se a pessoa não baixa o padrão de ondas cerebrais, isso implica em não tê-las. Talvez acabem, mas se forem indispensáveis, não faço idéia de como a alma (que inclui mente e físico, vide esferas) vai tentar compensar.

Se, por outro lado, o aparelho baixar o padrão de ondas cerebrais sem fazer a pessoa dormir, teremos um estado alterado de consciência induzido, típido da meditação, com (teóricos) benefícios para os lobos frontais, vide:

http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/materia/materia_35.html

Há iogues que conversam normalmente, enquanto aparelhos mostram uma frequência cerebral típica de sono profundo ou quase coma. Com o metabolismo baixíssimo e estado alterado (comparado ao nosso, neurótico), não tem sequer as mesmas necessidades calóricas (daí o "viver de luz"?), nem de sono, compreendendo o mundo (que em última análise é uma projeção mental obtida da ilusão sensorial) de outro modo.

Contudo, os relatos projetivos e clarividentes sugerem que, nas demais fases de sono, o psicossoma despreenda-se do físico, ainda que em geral sem consciência, o que pode atender a OUTRAS necessidades de compensação, trabalho bioenergético e restauração, transcendentes às esferas do físico e da mente. A privação destes momentos via processo natural me parece temerária e contra-indicada, pelo menos em um estado do conhecimento que sequer compreendemos o cérebro por inteiro, quanto mais uma visão integral.

> Júlio Sá:
> Ou pior de tudo, nos tornando cada vez mais próximos das máquinas?
> Sem precisar dormir, um empregado pode render mais à empresa. O que
> é isso? Uma neo-escravidão? A escravidão do século XXI?
> Às vezes dá medo dos caminhos e possíveis utilizações das novas
> tecnologias e descobertas científicas.
> Será que estamos fadados à trocar noites de sonos por estímulos
> elétricos no cérebro? Qual o próximo passo? A pílula da obediência?
> Os seres humanos são muito estranhos mesmo.

Certamente, há questões éticas envolvidas. Mas duvido um pouco que pessoas sem dormir / sonhar se tornassem melhor trabalhadores, especialmente em atividades intelectuais. Talvez ajude na atividade repetitiva / braçal, ainda assim se não requerer atenção.

Mas penso que as questões psicanalíticas sejam mais importantes NESTE caso, diretamente ligada a SONHOS e INCONSCIENTE. Penso também que várias decisões de nossa sociedade, medicamentos, hábitos, comportamentos, já tenham na psique o efeito temido acima. Infelizmente, já os absorvemos várias vezes, convertendo-os em pequenas patologias "sociais". E ao contrário do que os filmes americanos demonstram (lá psicanálise é mera ferramenta clínica auxiliar de psiquiatras), psicanálise é muito mais análise social e filosofia do que mera terapia coadjuvante para psicopatologias.

Sempre há remédios e métodos que alteram o funcionamento natural da psique, incluindo aí uma sociedade hiper-tensa ficando motivada ao tomar propanolol, os remédios de depressão batendo récordes de venda para as mulheres, e os remédios contra IMPOTÊNCIA (vários significados simbólicos) sendo de longe os mais vendidos para homens, campeões de faturamento nas farmácias. Já tivemos também a fase onde remédios para emagrecer (com direito a anfetaminas estimulantes e calmantes ansiolíticos na MESMA fórmula) eram mais moda do que a alimentação saudável e o (exagerado) culto narcisístico à boa forma de hoje em dia.

EM todos esses casos, as a(du)lterações são absorvidas socialmente, sua patologia amplificada passa a ser vista como "o normal", e as consequências, por mais graves que sejam, ficam mascaradas como sendo a característica comportamental da década.

Já tivemos tempos em que o stress era a doença da moda. Confusões dos papéis de gênero X sexo já trouxeram impotência e esfacelamento familiar, que por sua vez criaram mães neuróticas e híper-protetoras, que por sua vez geraram crianças mimadas e com excessivo valor ao material que comprava o amor / tempo retirado da estrutura do lar, que por sua vez gerou uma geração do aqui-agora, do ficar, do evitar laços permanentes, que por sua vez se amplificou numa cultura do não-coletivo, do "cada um por si hoje", do "só faço o que me dá prazer", que voltando-se ao corpo gerou uma sociedade narcisista / hedonista (horas de acadamia por dia, escravidão da moda, silicones, consumismo, dispensar relacionamentos assim que não ficam "bons", culto a imagem), e por aí vai. Ou, na outra mão, temos EMMOS e outros movimentos que, ao negar o estilo de vida dos pais (como é normal em qualquer geração), evidentemente caem na contra-mão de não viver sentimentos. Por essa via, o excesso neurótico de ontem pode dar lugar também a excessos psicóticos amanhã - o que as listas de discussão parecem confirmar.

Ou seja, nossas neuroses não ficam só em nós mesmos. Coletivas, formam o esqueleto invisível do "normal" e "social", ainda que travestidas (sublimadas) em um outro comportamento compensatório posterior. E uma vez que a plástica sociedade é "criada" à imagem e semelhança de nossas neuroses, ela não precisa mais de nós. Os que virão, inseridos no contexto social, já serão por elas regulados - e neurotizados - também.

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