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O outro lado dos rituais de daime e ayhuasca / aiuasca (DIÁLOGOS)
Publicado em: 13 de novembro de 2008, 05:22:10  -  Lido 4580 vez(es)

> Assinante Lancerny "Exu": 

> Até hoje procuro algum relato de algum clarividente que veja como

> "funciona" uma sessão de daime. Não participando, mas vendo de fora

> mesmo. De dados científicos se tem muito, mas de conhecimento empírico

> se tem pouco, pois grande porcentagem dos freqüentadores e mesmo dos

> "xamãs" conhecem muito pouco do que fazem, numa avaliação mais

> "científica".

 

 

Lázaro Freire comenta, na Lista Voadores:


Já tentamos, já pedimos, mas eles não deixam. Dizem que não é justo, todos lá "na força", e só a gente "careta". Dizem que é só um auxílio, mas é um auxílio OBRIGATÓRIO de se tomar. Tive que usar meus próprios recursos para observar, como contarei a seguir.

Me chamaram para tocar em um grupo com pessoas que adoro, quer elas usem daime ou não. Aceitei, mas disseram que eu TINHA que tomar "mel" (daime concentrado) em todos os ensaios. E pra piorar, em dia de semana, trabalhando ou estudando no dia seguinte. E se eu não gostar, não sou mais amigo. Eu até tocaria com eles tomando aquilo, respeitando o caminho deles, desde que respeitassem o meu em não tomar quando não quiser. Não aceitaram. Deus só se mostra para quem bebe aquilo, um convite aos músicos das esferas. Desculpe, meu Deus, por minha blasfêmia à sua droga sagrada, mas aí quem não quis fui eu. Vou tentar um pouco mais o caminho de Mozart e Beethoven, e o espiritual de Buda e Jesus, aqueles quatro caretas. E a amizade antiga, a entre irmãos.

Achei um pouco incoerente com aquele discurso de que o daime não é o fundamento, o daime não é o deus, o daime não é a espiritualidade, o que importa é a egrégora. Eu acredito MESMO na egrégora de algumas casas de Daime, mas nem essas mais sérias deixam você entrar se você não se drogar. E, para piorar, tem que ser numa dosagem indicada por eles.

Entretanto, consegui observar um pouco numa vez que provoquei vômito antes daquela #$% fazer efeito. Foi a única forma que encontrei de fazer um registro. Tenho um pouco de clarividência, muita sensibilidade, e bom conhecimento de espiritualidade, psicanálise, patologia e neuroquímica - mas talvez até por isso, temem que os observemos nessa condição. Em baixa dose, fingindo "passar mal" para eliminar o excedente antes de ficar drogado, tive uma das melhores experiências dentro do daime e umbanda, com interação de mente e visões, o que das outras vezes os delírios e alucinações não permitiram. Como disse, há casas e casas, e isso se deu em uma que tem egrégora antiga, contruida fora do daime, e com muitas pessoas em quem confio. Mas ainda assim, minhas percepções são suspeitas, pois eu estava sob efeito de um fortíssimo estimulante da seratonina, a ponto de provocar tanto percepções espirituais e internas (inequívocas) quando delírios e alucinações (ídem).

 



> Exu:
> [conheço] *Drogado que foi "buscar um barato legal", se livra do vício, e
> traz todos os 7 amigos
de infância e parentes, e todos largam
> também a droga.

Láz:
Isso é legal no daime. De fato, pode ser uma boa indicação para quem usa drogas e não consegue largar. É uma droga bem menos nociva, e legal. De fato, há MUITOS, MUITOS, MUUUUUUITOS usuários de drogas que são ex (ou atuais) usuários de outras drogas (eles chamam de "plantas de poder", inclusive cocaina, maconha, LSD e cogumelos).

Acho até POSITIVO que muitos drogados troquem a droga ilícita pelo daime, e os baratos, nóias e crimes pela percepção espiritual, ainda que induzida. Cada um que encontre Deus pelo seu caminho, e se o caminho de alguém era pela droga, é melhor voltá-la para Deus também. Mil vezes isso a ir parar no crack. Já vi músicos e artistas sensacionais se perderem nas drogas, e músicos e artistas sensacionais se reencontrarem no daime. Mil vezes o daime, e
falando de Deus.

Mas, pelo mesmo motivo, não podemos deixar de registrar que a familiaridade de ex (ou atuais) usuários de outras drogas com o crack é significativa. Ídem para psicóticos. Não estou dizendo que todos que usam sejam drogados, ex-drogados ou psicóticos, longe disso. Mas estou AFIRMANDO que a porcentagem de drogados, ex-drogados e psicóticos que se "encontram" no daime é muito superior ao percentual registrável em qualquer outra "religião". Não acho negativo isso, mas é bom que as pessoas que não tenham esse perfil estejam atentas.

Hoje mesmo DEMONSTREI [em outra mensagem] que uma estrutura de discurso psicótica de um assinante que alega não usar daime, ou que usou pouco daime, acaba sendo MUITO PARECIDA com o de usuários habituais (que já causaram flames aqui, com discursos muito parecidos em estrutura psicótica, independente de terem acessado Deus ou não, o que sinceramente acredito que tanto o psicótico quanto o sacerdote comparado de fato tenham feito).

Isso não é preconceito, não é acusação, não é intolerância: É, infelizmente, um FATO. Claro que nem todo usuário tem discurso psicótico, e nem todo psicótico usou daime. Mas a coincidência estrutural ÓBVIA entre esquizofrenia "natural" e o discurso de usuários de longo prazo das tais "plantas do poder" me levaria NO MÍNIMO a ter um pé atrás antes de me atirar de cabeça e usar isso mais do que umas 2 a 4 vezes por ano. Cuidado, pois muitas casas tentam OBRIGAR ou INDUZIR as pessoas a tomarem regularmente TODOS OS MESES, ou até mesmo mais que isso, em "ocasiões especiais". Substâncias que interferem em neurotransmissores, sejam elas legais, ilegais ou até mesmo prescritas por médicos, nunca são uma escolha "natural", e sempre embutem seus riscos, especialmente a longo prazo. A despeito do que dizem os comerciantes de chás alucinógenos ("padrinhos"), não há estudos conclusivos sobre segurança de uso.

REFORÇO: Uma dose de segurança implica em 2 a 4 vezes por ano. O caminho até Deus não demanda da NECESSIDADE de usar plantas alucinógenas mensalmente, nem mesmo entre os xamãs ORIGINAIS. Cuidado com casas tentam OBRIGAR ou INDUZIR as pessoas a tomarem regularmente TODOS OS MESES ou mais. Por trás disso, muitas vezes, há uma NECESSIDADE de arrecadação MENSAL de recursos, sem levar em consideração a saúde do indivíduo. Quando isso envolve comércio de situações entorpecentes, ainda que legalizadas, e formação intencional de dependência, não há melhor palavra do que "tráfico".

Notem que vocês não verão nenhum grupo sério e livre OBRIGANDO frequências espirituais. Você pode ir ao IPPB quando quiser, e deixar de ir, e voltar. E olha que eles não dão substâncias lá. Porque será que pessoas ainda sem tolerância a um alucinógeno PRECISAM ser forçadas a tomar por X meses em sequência, sem ter direito a parar?

E se o corpo é sábio e sempre expele tudo aquilo que é mal vindo e nos faz mal, porque será que é tão comum que usuários disso o rejeitem e o eliminem por todos os orifícios e poros, até adquirirem uma certa tolerãncia? Será que o corpo está errado, e só dessa vez?

Não estou concluindo, são só FATOS. Tenho alguns amigos que gostam, e muitos outros que tem mil motivos para detestar. São amigos do mesmo modo, pelo menos para mim, embora boa parte seja fundamentalista e não pense assim. Mas como formador de opinião, e experiente nessas coisas, sou OBRIGADO a jogar os questionamentos, para que cada um possa PENSAR POR SI.

Láz



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