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Lázaro Freire, Acid0 e Lobão na MTV: Daime é droga ou religião?
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Ayahuaska (daime) é mais forte que maconha, cocaina e LSD.
Publicado em: 23 de janeiro de 2009, 12:14:09  -  Lido 18664 vez(es)



> > Marco Antônio Coutinho:
> > R - Pirar ou morrer. Como acontecia com a ayhuasca. Que, ao que
> > consta, é muitas vezes mais forte do que os dois.
> > Abraços

 

> Fernando Sepe:
> Eu: A Ayhuasca tem tudo isso de DMT? Não sabia não...
> Vixi, por isso é que eu fiquei daquele jeito quando tomei.
> Achei que era a reencarnação do Raul Seixas :o)


Sepe,

Como assim "você TAMBÉM era o Raul"? :o)

 

Na minha formação em psicopatologias, módulo de dependência química, vi estudos sérios que demonstravam que o princípio ativo de uma dose habitual de Santo Daime (aihuasca, aiauasca, ayahuasca, DMT), é bem mais forte - em efeito e duração - do que a maioria das drogas "recreativas" usadas em contexto urbano, inclusive maconha, cogumelos, ectasy e cocaina - e, em alguns casos, LSD. Pode ser menos nociva, e usada para fins mais nobres, mas o potencial de substância psicoativa é maior.

O caso é particularmente mais sério devido à potente ação anti-depressiva do Inibidor da MAO associado ao DMT. Dentre outros efeitos, parecerá que a pessoa tomou umas duas cartelas de Prozac (fluoxetina)... de uma vez só. Após mirações e sombras, com tanto antidepressivo tudo será ótimo, tudo enfim fará sentido. Poucas situações da vida poderiam dar a sensação de prazer encontrado ali.

O problema um é que tanto anti-depressivo induz surtos maníacos posteriores (especialmente em bipolares). E o problema dois é que subir tanto a custa de substância química implica NECESSARIAMENTE em uma queda posterior, a exemplo do que ocorre com a cocaina. Passados alguns dias ou ritos, o mesmo que estava unido com o todo tem períodos depressivos. Alguns experimentam o inferno em alguma das sessões posteriores, e acreditam ser alguma "peia", e não o efeito de uma fortíssima depressão induzida por princípios psicoativos conhecidos presentes no chá.

Há rituais de daime que duram mais de 6 horas, nos quais os devotos permanecem "na força" o tempo todo. Em alguns, até tomam mais e mais doses, para que o efeito não passe. Presenciei casos de pessoas que, após mais de 10 horas do começo do ritual, ainda não tinham condição de sair dos templos. Boa parte sai dirigindo, ainda com presença da substância ativa alucinógena em seu corpo e pupilas dilatadíssimas (como ocorre em outras drogas), e pouco tempo após estar vendo imagens inexistentes à sua frente. Deveriam dormir uma noite antes de dirigir, mas a polícia os ignora - está mais preocupada em prender os "criminosos" que tomaram uma taça de vinho no almoço de família.

Outro contrasenso é que se um usuário de cocaina ou maconha consegue conviver socialmente sob efeito da droga, até tocar e trabalhar, seria impossível para alguém sob efeito do daime sair convivendo socialmente durante o (longo) efeito da substãncia. Pensem bem, para avaliar a potência da droga, comparada a coisas mais leves nesse quesito como cocaina e lsd. Um usuário de daime às vezes sai vomitando pela rua, rolando no chão, correndo de deuses e monstros, pulando, às vezes tendo diarréias incontroláveis no meio da conexão com o divino, começando a bailar incontrolavelmente, e às vezes ficar quieto em quase coma, praticamente sem respiração. Se fizesse isso na rua, seria caso de internação - provavelmente psiquiátrica. Ou seja, o daime, ao contrário das outras, é uma droga que impede o convívio social durante o efeito.

Todo caminho é caminho, mas o nosso não é o dos índios, que usavam as plantas de poder - após muito preparo iniciático - dentro de outro contexto cultural. Deus seria um tremendo "sacana" se houvesse escondido a iluminação em uma droga psicoativa. Se isso for verdade, ele deve rir muito, lá no céu, da cara dos caretas que trabalham sério a consciência, a ética, a espiritualidade e a meditação de cara limpa.

É fato também que quem vive na loucura tem contatos com o divino. Todos os manicômios tem relatos mediúnicos, embora seja difícil para um psicótico separar e aproveitar seus conteudos.

Cada um faz o que quer da vida, desde usar fantasias de Pocahontas no carnaval a viver na cidade tomando drogas indígenas para sair dizendo por aí que é "xamânico" - mas, se falamos de discernimento espiritual, me parece que não precisamos surtar INTENCIONALMENTE ou usarmos drogas para termos nosso encontro interno com Deus.

 

Lázaro Freire
(Enquanto isso, sigo sendo um espiritualista classificado por ayahuaskeiros e congêneres como "Careta", provavelmente porque ainda sou adepto da ética e da meditação, do abraço e das boas atitudes, da clarividência e projeção adquiridos com esforço interno e não com drogas. Religião não é droga, e eu pratico.)


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Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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